A 1 de abril de 2014 troquei Lisboa por Paris. Não porque sempre sonhei viver na "cidade luz", não porque tinha um desejo insaciável de partir para o estrangeiro, não porque estava desempregada ou não encontrava trabalho "na área". De um modo resumido, troquei Lisboa por Paris porque fez sentido.
A viver na nossa capital há já quase seis anos, sentia que o entusiasmo inicial e a sensação de pertencer e de querer tirar o máximo partido da cidade se deixavam engolir, aos poucos, por uma rotina avassaladora e desgastante. Por outro lado, algumas das amarras que ali me tinham mantido começavam a desfazer-se: os meus amigos estavam naturalmente submersos nas suas próprias rotinas, alguns tinham mesmo regressado a casa; o meu trabalho de sonho começava a roubar-me demasiadas horas de sono; e, por fim, o J. tinha-se mudado para Paris há já 6 meses e, embora estivesse tudo a correr bem, não era uma situação ideal.
No meio de tudo isto, um dia percebi que estava a lutar por algo que já nem sabia identificar, que já não fazia sentido. Foi então que decidi juntar-me às estatísticas e ser mais uma jovem a sair do país.
Ora, isto foi há três anos e, curiosamente, encontro-me agora numa situação semelhante. Estou de malas feitas para regressar a casa. Não porque deixei de ter trabalho, não porque aconteceu algo com o J., mas porque, mais uma vez, faz sentido.
Se me arrependo de ter vindo? Não, de modo nenhum. Foi uma oportunidade para repensar e relançar a minha vida, que me trouxe muitas experiências positivas. Se não estive feliz aqui? Umas vezes mais do que outras. Não é fácil deixar de ter raízes, não pertencer e começar, aos poucos, a sentir que se perde o contacto com a realidade.
Reconheço a importância de arriscar e fazer sacrifícios, mas acredito que os sacrifícios devem ser proporcionais às necessidades e, correndo o risco de me repetir, devem fazer sentido. Nos três últimos anos, fez sentido sacrificar a presença da família e dos amigos para melhorar a minha qualidade de vida. Fez sentido sacrificar idas mais frequentes a casa para conhecer mais do Mundo. Fez sentido sacrificar espaço e conforto e viver em apartamentos do tamanho do meu quarto de adolescente para conquistar a minha independência financeira.
No entanto, quando começamos a perder de vista as razões pelas quais fazemos tais sacrifícios e nos transformamos em pequenos hamsters, a correr desenfreadamente sem chegar a destino algum, algo tem de mudar. No meu caso, é a direção do voo, que desta vez me levará de regresso a casa.